Combate ao HIV: Histórico e Avanços

A epidemia de HIV/Aids, uma Infecção Sexualmente Transmissível (IST), é uma das maiores ameaças à saúde pública. Com o tratamento certo, pessoas que vivem com HIV podem levar uma vida saudável e de baixo risco

Por Ivan Cintra | Foto: Divulgação/Agência Brasil

No início dos anos 1980 o mundo viu o início de uma pandemia global de HIV, que continua sendo a mais mortal da história recente. De acordo com o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (Unaids), cerca de 79 milhões de pessoas foram infectadas pelo vírus. Hoje, 38 milhões vivem com o HIV, destes, mais de 60% estão em terapia antirretroviral, o que os mantêm vivos, saudáveis e os impedem de transmitir o vírus. No entanto, 10 milhões de pessoas em todo o mundo não estão em tratamento, podem disseminar o vírus e facilitar o desenvolvimento de novas variantes.

O vírus do HIV é uma infecção sexualmente transmissível (IST), se espalha através de fluídos corporais e pode levar à síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS). Sem o tratamento necessário, o vírus ataca as células do sistema imunológico, tornando o organismo vulnerável a quaisquer infecções e doenças. Sem o tratamento, o quadro clínico do indivíduo leva entre sete a doze anos para evoluir para a AIDS. 

A transmissão se dá, principalmente, pelo contato sexual. Também pode ser transmitido por compartilhamento de agulhas e pela troca de fluidos corporais entre gestante e feto. A transfusão de sangue pode ser um meio de contaminação, mas é pouco provável, visto que todo o estoque de sangue no Brasil é previamente testado.

A disseminação do HIV é identificada desde 1920, na República Democrática do Congo, mas só chamou atenção quando atingiu os grandes centros do hemisfério norte nos anos 1980. Na época, a mídia ainda era ignorante quanto aos casos de IST. Amplamente divulgada, a noção de que a Aids era uma doença que acometia somente os homossexuais incitou mais preconceito contra a população LGBT. Era comumente recomendado o isolamento total do infectado, o que fez com que as pessoas com HIV vivessem e morressem em um estigma social que lhes causava sofrimento e solidão. A desinformação também afetou, e ainda afeta, pessoas que são heterossexuais e cisgênero, que se sentiam seguros em não se prevenir.

Segundo a Unaids, o risco de adquirir o HIV é:

  • 35 vezes maior entre os usuários de drogas injetáveis;
  • 34 vezes maior para mulheres trans;
  • 26 vezes maior para trabalhadores/as do sexo;
  • 25 vezes maior entre homens que fazem sexo com homens.

O Combate no Brasil

Nem todas as reações foram favoráveis a um programa especial de combate à Aids no Ministério da Saúde brasileiro. Nos anos 1980, setores políticos ainda afirmavam que se tratava de um problema pequeno que afetava apenas um grupo minoritário da sociedade. Com a redemocratização, o fortalecimento dos movimentos sociais, das ONGs e a criação do SUS, em 1988 foi criado o Programa Nacional de Controle de Doenças Sexualmente Transmissíveis e Aids (PN DST/aids). O programa foi de extrema importância para o combate da doença.

O Brasil foi o primeiro dentre os países em desenvolvimento a garantir a distribuição gratuita de medicamentos antirretrovirais às pessoas que vivem com o HIV.

Hoje, o Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis (DCCI) atua no âmbito do SUS com a prevenção e tratamento do HIV. A prevenção se dá por meio de preservativos e da Profilaxia Pré-Exposição (PrEP), medicamento que bloqueia os caminhos que o HIV usa para infectar as pessoas, inibindo a habilidade do vírus de interagir com o DNA humano. O tratamento é feito por meio de medicamentos antirretrovirais que impedem a multiplicação do vírus no organismo.

O fortalecimento do Programa Nacional de DST/aids nas últimas décadas evidencia que a prevenção, tratamento e assistência das pessoas que vivem com HIV têm forte impacto na saúde pública. Segundo dados da Unaids, novas infecções foram reduzidas em 52% desde 1997. As mortes relacionadas à Aids foram reduzidas em 64% desde 2004 e em 47% desde 2010. 

Vivendo com HIV

É possível viver com saúde décadas após o diagnóstico, mas a prevenção e o acompanhamento médico são essenciais. Os medicamentos disponíveis hoje já são capazes de proporcionar uma vida normal. Pessoas que vivem com o HIV podem viver muitos anos sem apresentar sintomas ou desenvolver a Aids.

Os fármacos antirretrovirais são fornecidos gratuitamente pelo SUS. Não são capazes de eliminar o vírus do organismo, mas conseguem diminuir a carga viral e aumentar a qualidade de vida. O diagnóstico é realizado por meio da coleta de sangue, os testes rápidos podem detectar anticorpos contra o HIV em até 30 minutos.

Prevenção

A PrEP, Profilaxia Pré-Exposição ao HIV, é composta por medicamento antirretroviral, impede a proliferação do retrovírus e bloqueia a formação de novas partículas virais no corpo humano. Segundo Eliezer Ramos, PhD em imunologia pela UFPR e pesquisador do Moredun Research Institute, a PrEP deve ser utilizada pela população mais vulnerável à contaminação, como homens homossexuais e mulheres trans com vida sexual ativa. “A forma mais acessível de prevenção continua sendo o uso de preservativos”, disse o pesquisador.

Com a recente aprovação no Brasil, a PrEP injetável tem eficácia superior. No Brasil, o novo medicamento vai ser implementado a partir de 2022 em parceria da Fiocruz e o Ministério da Saúde. A PrEP em cápsula tem uma dose pequena de antirretroviral que deve ser ingerida diariamente, já a PrEP injetável possui uma quantidade maior do medicamento, que é liberada no corpo de forma constante ao longo de 2 meses. Para o imunologista Eliezer Ramos, “a injeção tem garantia de proteção por dois meses, é considerada mais eficaz pois não existe o risco do esquecimento de quando se toma as cápsulas”. A meta é fazer com que a prevenção alcance 95% das pessoas com risco de infecção até 2025. “O PrEP injetável deve facilitar o tratamento preventivo do HIV no Brasil”.

Cura para o HIV

Para desenvolver uma vacina, os pesquisadores precisam testá-la em pessoas. Os testes são seguros e não causam problemas de saúde. O Estudo Mosaico tenta descobrir uma vacina que possa prevenir a infecção pelo HIV. Um grupo de vacinas experimentais foram escolhidas para serem testadas.

Eliezer Ramos acredita que a vacina do Mosaico é um passo importante na busca da cura para o HIV. “É uma vacina extremamente complexa, baseada em diversas vacinas das mais diversas variantes do HIV, é um estudo extremamente promissor. Os últimos resultados da Mosaico, no entanto, demonstraram resultados pouco significativos, então existe muito trabalho pela frente”, disse o pesquisador.

Atualmente não existe a cura, estudos ao redor do mundo caminham para encontrar uma solução para a pandemia de HIV. “O desafio atual é desenvolver uma vacina eficaz contra o HIV. É um vírus multivariado, sua variedade genética é difícil de se compensar em uma vacina. Mesmo assim, acredito que até 2030 teremos avanços significativos no desenvolvimento de uma vacina”, completou o imunologista.

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